Fusão de Zap e VivaReal cria nova holding

As duas maiores empresas de classificados imobiliários digitais do Brasil decidiram fazer a fusão de suas operações. Zap, integralmente do Grupo Globo, e VivaReal, detida por seis fundos de investimentos principais, criaram uma holding para controlar a nova empresa combinada.
O Globo possui a maioria das ações do Grupo Zap VivaReal, mas a gestão do conselho de administração será compartilhada, com três diretores de cada empresa e um membro independente, disse Jorge Nóbrega, vice-presidente-executivo do Grupo Globo.
O presidente-executivo do VivaReal, Lucas Vargas, assume o comando da empresa combinada. O diretor-geral do Zap, Eduardo Gama Schaeffer; e Brian Requarth, cofundador e presidente do conselho de administração do VivaReal, são os copresidentes do conselho da nova empresa.

O Zap, com 500 funcionários, e o VivaReal, com 600, passam a ser integrados pela holding, embora mantenham as marcas e os produtos separados. As empresas não revelam a receita, mas cada uma tem crescido acima de 30% ao ano. “Com a recuperação da economia e do mercado imobiliário, teremos demanda ainda maior para a empresa combinada crescer de forma acelerada, e o processo de recuperação da economia ajuda muito nesse crescimento”, diz Nóbrega.
Os grupos são complementares. Unidos, seus portais mostram mais de 7 milhões de ofertas de imóveis, produzem acima de 4 milhões de contatos interessados nos anúncios, atraem 40 milhões de visitas on-line e geram mais de 100 mil buscas por hora. São 20 milhões de visitantes únicos.
A sobreposição é em torno de 20% no número de anúncios e de 20% a 30% sobre o total de 30 mil clientes. “As duas empresas estão em fase de crescimento robusto, há grandes oportunidades”, diz Schaeffer, que considera a superposição baixa. Os produtos são diferentes, com ofertas mais simplificadas no VivaReal.
O Zap nasceu em 2001, como Planeta Imóvel, um site de classificados de um grupo de amigos. Logo depois, foi vendido ao Infoglobo, braço de publicações do Grupo Globo, ao qual o Valor pertence, e ao “O Estado de S. Paulo”. Passou por uma expansão em 2005 e em 2007 foi rebatizado de Zap, com nova forma de atuação.
Em 2012, o Infoglobo comprou a fatia do sócio e ficou com a totalidade do capital do Zap. Na sequência, passou a ter vida própria dentro do Grupo Globo, porque nasceu como defesa do jornal impresso, mas cresceu muito mais como serviço digital, disse Schaeffer.
“O Zap é um exemplo de transformação digital”, afirmou Nóbrega. “Soubemos preservar nossa relevância no mercado de classificados, conquistada ao longo de décadas com nossos jornais, ao desenvolver um serviço superior aos consumidores através do que há de melhor no ambiente digital. É um exemplo porque as receitas digitais para as empresas de mídia tendem a ser cada vez mais importantes.” Segundo ele, o VivaReal e o Zap passam também a combinar a inteligência de dados, componente valioso dos serviços digitais. “Para nós, é o futuro.”
No mesmo portal, o consumidor pode consultar milhares de ofertas de imóveis em qualquer região do país. Há fotos e dados como preço do condomínio e informações do bairro. Pelo aplicativo Zap Explora, basta apontar o celular para os prédios e ver onde há ofertas e os respectivos detalhes. Todas as imobiliárias estão concentradas num só lugar.
O processo de migração digital começou por grandes empresas de mídia no mundo, que perdiam o classificado impresso. O Zap e o VivaReal vieram em busca dessa oportunidade, diz Nóbrega. Mas, para o anunciante, o impresso continua importante, particularmente para lançamentos, observa. Por isso a receita não migrou 100% para a web. Já o pequeno anúncio de imóvel usado praticamente foi todo para o mundo digital.
O Zap continuou sua expansão em 2013, ao sair da regional São Paulo-Rio para nível nacional. Comprou o site Pense Imóveis, no Sul, no fim de 2014; e o Sub100, uma plataforma de gestão do relacionamento com os clientes (CRM, na sigla em inglês) para incorporadoras, imobiliárias, corretoras e loteadoras, em 2015. A partir daí, decidiu investir em dados.
Paralelamente, em 2011 o Zap e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) lançaram o primeiro índice de preços de imóveis do país, o FipeZap, que toma por base o banco de anúncios do portal. “Virou uma família de índices de pesquisas que ajudam a nortear para onde o mercado está indo”, disse Eduardo Schaeffer.
Por meio da fusão das duas empresas, a quantidade de dados se multiplica e os produtos nessa linha serão aprimorados, disse Nóbrega. Em 2016, foi criado o DataZap, com o Zap como principal acionista e mais três professores, para oferta de dados ao mercado.
Ao longo de sua evolução, o Zap concentrou-se no desenvolvimento de dados, no pré-lançamento de imóveis, na análise do preço em relação à região, enfim, em informações que servem de apoio à decisão do consumidor. Já o VivaReal acelerou mais a oferta de serviços e produtos pós-contato.
O VivaReal também passou por várias transformações desde a sua fundação, em 2007, pelo americano Brian Requarth e o alemão Thomas Floracks, na Colômbia. Os dois se conheceram por acaso, na fila da Polícia Federal. Acabaram ficando amigos e decidiram criar um portal imobiliário. Em 2009, entrou um sócio brasileiro, Diego Simon. Brian e Thomas, então, decidiram levar o negócio para o Brasil.
Em 2011, chegaram investidores-anjo como Greg Waldorf (primeiro investidor do Trulia, portal que vale US$ 3 bilhões, comprado pelo Zillow, ambos dos Estados Unidos) e Simon Baker (antigo CEO do REA Group, liderou o IPO do portal australiano, que vale US$ 9 bilhões). No ano seguinte, entrou o primeiro investidor institucional, o Monashees Capital, o que permitiu ao portal romper a fronteira de São Paulo para buscar a expansão nacional. Depois entraram novos investidores.
Hoje, o VivaReal está presente em 15 cidades de 12 Estados e a maioria do capital passou a ser dividida por seis fundos, com menos de 15% cada, em três rodadas de investimentos: Monashees Capital e Kaszek Ventures; Valiant Capital e Dragoneer Investment Group; e Spark Capital e LeadEdge Capital.
O último aporte, feito em conjunto pelos fundos Spark Capital e LeadEdge Capital, avaliou a empresa em US$ 300 milhões em 2014. Foi quando o direcionamento estratégico do portal imobiliário mudou para sistemas, disse Lucas Vargas. O jovem executivo, que saboreia pastilhas de chocolates enquanto conversa, foi contratado pelo VivaReal como vice-presidente comercial, em 2012, para trabalhar em sua expansão. Em 2015, foi nomeado diretor de operações e, em 2016, substituiu Brian Requarth como presidente-executivo.
Ao redirecionar sua estratégia para sistemas, o VivaReal comprou, em 2015, a SuaHouse, empresa que fornece CRM para incorporadoras. Em 2016, adquiriu a Graubox, uma pequena empresa que qualifica os consumidores das incorporadoras. Em 2017, comprou a Geoimovel, que possui banco de dados e faz análise envolvendo inteligência imobiliária, sistemas integrados para aplicações (SAS, na sigla em inglês) e relatórios de inteligência para apoiar incorporadoras.
Fonte: Valor Econômico