O que já aprendemos e o que ainda precisamos aprender sobre liderança remota em um ano de home office

Por Anelise Roberta Belo Bueno Valente, advogada associada no escritório Rücker Curi

Passados 12 meses de instabilidade global, das perdas irreparáveis em âmbito pessoal, do abre e fecha, de decretos com restrições anunciados ao apagar das luzes de uma sexta-feira e do trabalho remoto imposto e implementado sem qualquer preparação, estaríamos chegando perto do ideal e necessário para uma liderança remota?

Se para os colaboradores o trabalho remoto é um desafio, para os líderes de equipe há ainda mais obstáculos a serem superados. Para além das questões relacionadas ao home office, como adaptação à quebra abrupta de rotina e manter a jornada dentro do padrão viável e saudável à saúde mental, existe ainda a função conjunta de liderar uma equipe, pequena ou grande, mantendo todos os colaboradores engajados e ajudando-os a superar os desafios diários do trabalho remoto.

Por mais que ainda existam questionamentos e muita evolução à frente, é fato que, um ano depois do primeiro lockdown, os líderes devem estar mais adaptados e agindo de maneira mais assertiva na hora de manter o ânimo e a disciplina dos liderados. E, apesar de inexistir uma fórmula mágica e única para liderança de equipe, é importante compreender que algumas mudanças são, sim, imprescindíveis.

Já diria José Galló, executivo e ex-CEO das Lojas Renner, função que exerceu por 20 anos: quando o líder está diante do enfrentamento de crises, “a primeira coisa a se pensar é nas pessoas”. Portanto, se torna essencial exercitar diariamente a empatia e o olhar humanizado, demonstrando aos integrantes da equipe que sua condição enquanto pessoa importa tanto quanto os resultados que podem ser atingidos com sua dedicação. Até porque, é natural produzir mais quando você se sente acolhido e valorizado. Aqui vão algumas práticas de boa liderança remota que o último ano exigiu

Ouvir o que o outro quer e precisa dizer

Saber e, principalmente, ouvir o que o outro quer e precisa lhe dizer, entendendo a demanda de forma clara a fim de que a solução ideal seja alcançada. Dar espaço para uma maior interação entre os membros da equipe, descentralizando questões com menor impacto contingencial e demonstrando a todos que eles têm autonomia e capacidade para solucionar parte dos problemas diários que possam surgir.

Assumir a responsabilidade

Da mesma forma, puxar para si questões mais relevantes e que possam causar desconforto e dúvidas aos liderados no momento da busca de solução, mas sem deixar de oferecer o feedback aos envolvidos.

Se abrir para a nova comunicação

É preciso desenvolver ou aprimorar as habilidades para um novo tipo de comunicação, que não tem a troca de olhares e percepções da linguagem corporal e se restringe à troca de mensagens. Sempre cuidando com os termos e formas, evitando interpretações diferentes das pretendidas. É importante, mais do que nunca, saber dosar a quantidade de mensagens e cobranças diárias, sem esquecer do controle das atividades, mas prevalecendo a flexibilidade e deixando que a equipe realize as atividades que realmente importam. Em contrapartida, instruir e deixar previamente combinado com todos, a começar pelo líder, como deverá se estabelecer a relação com o chat, adotando padrões de comunicação.

Otimizar as reuniões online

Manter as reuniões periódicas da equipe e, sempre que possível, expandir para a participação de integrantes de outras equipes, visando a troca de experiências, tem se mostrado imprescindível para manter as equipes próximas nesses tempos de isolamento social. Contudo, é sempre bom deixar o assunto a ser abordado bem delimitado logo no envio prévio da pauta, para que todos possam se preparar e levar suas contribuições profissionais ou pessoais sobre os temas.

Liderar remotamente é buscar com muito mais afinco a prática da empatia assertiva. Como bem explica Kim Scott no livro “Empatia Assertiva”, “para ser um bom líder, você precisa importar-se pessoalmente com as pessoas ao mesmo tempo que as confronta diretamente. Se confrontá-las sem se importar com elas, cairá na armadilha da agressividade ofensiva”. Por isso, é necessário ter em mente que liderança é modo de agir e liderar de forma eficaz não se resume a ordenar, mas sim em influenciar.