Em recuperação judicial, Passaredo troca presidência e prevê crescimento

Após reduzir sua frota e demitir funcionários no primeiro semestre, a companhia aérea Passaredo anunciou a mudança na presidência, criou um conselho de administração e projeta voltar a crescer em 2017 ancorada na aviação regional. Mas, além da crise que atinge o setor, ainda enfrenta recuperação judicial e atrasos nos pagamentos de salários dos empregados.
A aérea, baseada em Ribeirão Preto, anunciou a saída de José Luiz Felício Filho da presidência da empresa, cargo que ocupou nos últimos 15 anos, e a substituição por Adalberto Bogsan. Felício Filho vai para o conselho de administração, recém-criado.
Hoje com 850 funcionários, oito aeronaves (todas turboélices da fabricante franco-italiana ATR) e operando em 18 localidades do país, a Passaredo projeta chegar a até 25 locais em 2017, avançando especialmente no Sudeste e Centro-Oeste do país. Hoje, atua em São Paulo (Guarulhos), Brasília, Goiânia, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte, entre outras cidades.
“A Passaredo é a única empresa no Brasil puramente regional, o foco dela é o mercado regional e atendendo os grandes centros como alimentadora. Esse é o objetivo que a gente vai prosseguir nesse caminho, trazendo novas cidades para dentro do portfólio da empresa, fazendo trabalho de alimentação para grandes centros, para empresas que são nossas parceiras”, disse o presidente.
Segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a Passaredo é a quinta companhia aérea em número de funcionários no país, atrás de Latam, Gol, Azul e Avianca.
Bogsan, que atua no setor desde 1989, já estava na aérea desde julho, um mês após uma demissão em massa. Nos dois anos anteriores, foi diretor de operações da Azul e finalizou o processo de fusão dela com a Trip. Antes, foi vice-presidente técnico operacional da Gol.
Para ele, houve uma tendência de melhora na economia e não adianta esperar o mercado “bombar” para pensar em aumentar a malha aérea.
“O fato de termos aviões de 70 lugares permite explorar mercados desassistidos pelas grandes empresas, que deixaram de atendê-los por falta de demanda. Vimos como possibilidade de uma virada para nós em 2017. Temos olhado bastante destinos em volta de São Paulo e Goiás, onde as empresas diminuíram oferta. Projetamos crescimento para ao menos 24, ou 25 localidades, dependendo de como se comportar a economia.”
O objetivo da aérea regional ocorre num momento em que a aviação no país apresenta declínio. Dados da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) mostram que, em outubro, houve retração de 5,09% na demanda por voos domésticos, em comparação com o mesmo mês de 2015. Foi o 15º mês seguido de queda no indicador.
DEMISSÕES E ATRASOS
Em junho, a empresa alegou retração no mercado devido à crise econômica e demitiu quase 300 funcionários, iniciou a devolução de seis aeronaves e eliminou rotas de sua malha.
A aérea hoje, conforme relatos de funcionários à Folha, tem atrasado salários e não tem depositado FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) de seus empregados.
Parte dos empregados demitidos em junho não aceitou a proposta de parcelamento das rescisões trabalhistas e foi à Justiça. Quem aceitou tem recebido os valores em dia, segundo eles.
Em 2012, a Passaredo apresentou um pedido de recuperação judicial, com dívidas superiores a R$ 100 milhões, geradas, de acordo com a empresa, devido ao alto preço do combustível e à “concorrência desleal” praticada em Ribeirão.
A companhia alega que, no momento atual, voltou a ter equilíbrio financeiro, após os cortes de custos feitos ao longo do ano e, segundo Felício Filho, o processo de recuperação judicial deve ser concluído no primeiro semestre.
“O contexto em si da recuperação foi benéfico, foi uma oportunidade de continuar a gerar empregos e preservar a essência do próprio negócio, permitiu reestruturar a companhia, desde frota a acordos comerciais. Não só a Passaredo, mas setor aéreo sofreu muito, acho que nunca tivemos tanta perda como nos últimos quatro, cinco anos”, disse.
Ainda conforme o ex-presidente, o índice de ocupação das aeronaves está em 70%, abaixo dos quase 80% registrados no ano passado.
Fonte: Folha de São Paulo
“A recuperação judicial dá toda a liberdade para os dirigentes da empresa modificarem o quadro diretivo e suas estratégias. Essa é uma das vantagens do uso do instituto jurídico da recuperação. Todavia, deve-se estar atento para não haver atrasos nos pagamentos dos credores e dos funcionários, uma vez que esse tipo de postura acaba gerando empecilhos no cumprimento do plano aprovado perante o Poder Judiciário e pode, até mesmo, causar a falência da empresa” – Dra. Izabela Rücker Curi Bertoncello.

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